Bauman e Freud- as origens do mal-estar

Bauman e Freud: o princípio do mal-estar

O mal-estar da pós-modernidade, obra de Zygmunt Bauman de 1997, faz referência direta ao clássico de Sigmund Freud, O mal-estar a Cultura, de 1930. Neste texto, Bauman interessou-se pela análise e crítica que Freud fez à cultura, que em síntese apontava que na civilização renunciamos a liberdade nome da segurança, da certeza e da proteção (sicherheit). Esta era a fonte de nosso mal-estar.

No entanto, em O mal-estar da pós-modernidade, Bauman apontou uma virada da razão de nosso mal-estar: a liberdade. Renunciamos a segurança em nome da liberdade, cujos efeitos colaterais são a incerteza, a ansiedade e a angústia (unsicherheit), que passaram a ser nossa fonte de mal-estar.

Bauman e Freud: aproximações

À época de O mal-estar na Cultura Freud, com 74 anos, vivia na Áustria e atuou como um intérprete de seu contexto histórico-geográfico: o entreguerras na Europa Central com o acirramento das tensões políticas; da repressão à psicanálise; da ascensão do nazifascismo e do agravamento do antissemitismo, do qual sofreu.

Bauman tinha 5 anos quando O mal-estar a Cultura foi publicadoe vivia na Polônia, nação vizinha.Era, tal qual Freud, de origem judaica. Em função do contexto, seus destinos seriam compartilhados: ambos se exilaram; Freud, na Inglaterra, quando da anexação da Áustria à Alemanha nazista em 1938 (a Anschluss); e Bauman, na União Soviética, após a invasão alemã à Polônia em 1939. Freud faleceu um ano após seu exílio. Bauman, 77 anos depois. Ambos na Inglaterra.

Liberdade e Segurança

A relação de Bauman com Freud não se limita a O mal-estar na Pós-modernidade. Bauman passa a sustentar a tese de que “o progresso histórico faz pensar mais num pêndulo que numa linha reta” (BAUMAN, 2017, 19). Nos polos do movimento do pêndulo estão a liberdade e a segurança, e as sociedades migram de um ao outro de tempos em tempos em busca da felicidade, tentando encontrá-la.

Outro ponto importante que Bauman se apoiará na obra Freudiana são as fontes do medo humano: “o poder superior da natureza, a fragilidade do nosso próprio corpo e a deficiência das disposições que regulam os relacionamentos humanos” (FREUD, 2013, p. 80). A terceira fonte advém da vida em sociedade e que, tanto para Freud quanto para Bauman, será uma fonte difícil de resolução.

Bauman a analisou em diversos livros: Vida Líquida (2005); Tempos Líquidos (2007); Medo Líquido (2008); Confiança e Medo na Cidade (2009); A Arte da Vida (2009); Cegueira Moral (2014); Vigilância Líquida (2013); O Retorno do Pêndulo (2017); Mal líquido (2019).

Estes livros nos dão uma boa introdução da relação teórica entre Bauman e Freud.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998

BAUMAN, Zygmunt. O retorno do Pêndulo. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na Cultura. Porto Alegre: L&PM, 2013.


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